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sábado, 9 de junho de 2012

Ex-presidiários gente que errou, se arrependeu e que sonha

Em minha caminhada pelas ruas de Salvador buscando ajudar os moradores de rua tão discriminados pela grande maioria das pessoas,  encontrei todo tipo de histórias. Descobri  que muitos dos moradores de  rua são pessoas sensíveis, amantes da música, tocadores de violão, amantes  da dança, sonhadores de um dia quem sabe ser escritores, cantores, dançarinos. Mas ali também estão aqueles que são  discriminados pela sociedade de forma mais notória, os ex-presidiários, pois  carregarão pelo resto de suas vidas o estigma que os destaca dentre os demais .
Ao conversar com eles,  um ex presidiário me falou que deseja escrever um livro para alertar os jovens a não entrarem no mundo do crime, das drogas, pois segundo ele só estava vivo por um milagre.  Me mostrou as cicatrizes das balas, cortes,  marcados em seu corpo e sua muleta herança dos 10 anos de cadeia que cumpriu.  Após derrame  ficou com um lado do corpo esquecido. Se arrepende de muito do que fez na juventude, disse que foram loucuras e que a maior dor foi o afastamento de sua família. Não vê os pais há anos e hoje quando vê seu primo bem de vida, bem empregado com dois carros, uma mansão, pensou porque  fez tudo errado, quanta besteira de um cabeça dura que não ouviu conselhos. Eu vi no rosto daquele homem a dor do arrependimento que chegou tarde demais,  pois segundo ele,  agora como  deficiente físico tudo seria mais difícil. Então o que ele quer fazer é ajudar outros a não passar pelo que ele passou contando sua história em um livro.  O sonho dele me emocionou, mas como ele e outros poderão  conseguir chegar a realização de tantos sonhos se nem conseguem ter uma vida relativamente normal?
Muitos moradores de rua são pessoas comuns que acabam mergulhando no mundo das drogas e ainda que por um momento sintam realmente vontade de mudar, quando se vêem já estão drogados, e assim começam cada dia  em que se repete tudo. Alguns deles ganham trocados catando lata, papelão, reciclando, outros descarregam caminhões de mercadorias e vão levando suas vidas.
Quando conversamos me informaram que o mais difícil tem sido encontrar água para beber, lavar as roupas ( por isso ficam com roupas imundas, mau cheirosos) tomar um banho. Nas noites frias os papelões é que ajudam a amenizar um pouco, outros buscam o aquecimento no álcool mesmo, outros contam com a solidariedade das pessoas que as vezes levam cobertores, roupas.
Encontrei outro, um jovem  morador de rua, ex presidiário,  que disse ser de São Paulo e iria embora no fim de semana, me mostrou um resultado de exame médico que atestava estar cm AIDS e a médica que o atendeu o informou  que mediante os resultados  só teria 1 ano de Vida. Como sua família era de São Paulo, ele me disse que pediu a médica pra sair do hospital e ir visitar sua esposa e filhos e passar o resto de dias que tinha. Seu estado realmente era gravíssimo. Fiquei impressionada quando ele me disse que muitos dos colegas que estavam no hospital há mais tempo que ele morreram não somente por causa da AIDS mas pela depressão por estar jogados lá como trapos humanos sem receber nenhuma visita, e ele como já ficou nessa situação outras vezes em  que precisou ser internado, confessou o medo da solidão, pois a doença é mais insuportável sem o amor e o apoio dos entes queridos.
Eu ainda não estava acreditando no que estava vendo,  um Jovem  que não aparentava estar com os dias de vida contados,  sentenciado daquela forma. O que eu poderia dizer? Que confiasse no Eterno e que ele poderia curá-lo. Ele relatou  que um outro amigo estava na mesma situação que ele dormindo pelas praças do centro da cidade, estava bem doente e não duraria muito tempo também.
É muito duro vermos vidas destruídas desta forma, mas esta é  a  realidade  no mundo todo.
Estes que relatei as histórias aqui resumidamente eram presidiários, mas há os que são pessoas comuns, que por algum motivo provocado por eles próprios ou por outrem,  foram parar lá, nas calçadas, debaixo de viadutos, e praças da cidade.
O Tempo é quem poderá dizer o que sobrevirá a cada um deles, as consequências dos seus atos assim como cada um de nós arcamos com o que fazemos. Pois nada se perde, plantamos e colhemos, pode levar um dia, dois 1 ano, 10, a vida toda  mas certamente colheremos.
Não é por isso que devemos deixar de estender a mão a quem quer que seja, pois ninguém está livre  de cometer erros,  e todos merecem uma nova chance, primeiro eles tem que se dar esta nova chance e nós manifestarmos através do nosso apoio.
O arrependimento verdadeiro só é reconhecido através da manifestação de  novas ações, do percorrer um novo caminho deixando para trás o que serviu como aprendizado, para vislumbrar que nem tudo está perdido, há espaço para ser conquistado.
A sociedade tem nas mãos o poder de abrir ou fechar este espaço, confirmar  ou negar uma nova chance a cada indivíduo.

                                                                                             Andréa Luzana Calhau

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